Ontem, Mário Nogueira anunciou que pretende avançar com um “processo jurídico” contra a JSD, pela mão da FENPROF. Pois que avance.
Uma das convicções que temos é encarar a liberdade de expressão enquanto caminho de duas vias: com maior ou menor contundência, criticamos e somos criticados. Porém, há em Portugal quem julgue estar imune à crítica e à divergência de opinião. É o caso de Mário Nogueira, para quem a liberdade de expressão só tem uma via: a sua. O anunciado processo contra a JSD vem daí: a palavra dos outros incomoda Mário Nogueira!
Porém, ao mesmo tempo que acusa a JSD, Mário Nogueira utiliza meios menos próprios até para com órgãos de soberania.
Foi o que aconteceu há dias quando o seu líder, Mário Nogueira, sugeriu que a defesa dos contratos de associação tem “motivações de ordem financeira” que passam por “meter muito dinheiro dos contribuintes ao bolso”1.
Aliás, a FENPROF chegou a usar a palavra “roubo”, num cartaz em que figuravam Pedro Passos Coelho, Nuno Crato e Vítor Gaspar.2
Em 2014, a FENPROF promoveu uma “queima” do Orçamento de 2014, desonrando o Parlamento, que legitimamente aprovara esse diploma em representação do Povo Português.3
Também em 2014, todos vimos Mário Nogueira vaiar e zombar enquanto o anterior Chefe de Estado desfalecia numa cerimónia militar do Dia de Portugal.4
E esse senhor, que diz ser professor, apesar de não lecionar há dezenas de anos, insinuou que os jovens do PSD chegam à política por inspiração ideológica “do tempo de Salazar”.5
É caso para perguntar: quando é Mário Nogueira a usar a sua liberdade, já não há problema?
Há duas frases de Francisco Sá Carneiro que podemos recordar “A Democracia é difícil mas dela não nos demitiremos” e “O valor essencial da liberdade sem a igualdade torna-se um aristocrático privilégio de uns quantos”. São dois lemas importantes para quem não desiste de lutar pelos seus ideais e que opta por fazê-lo com vivacidade e coragem, e que devemos recordar hoje a Mário Nogueira a propósito desta questão, e da forma como parece querer ter só para si os valores da liberdade.
Da mesma forma que Estaline se achava o único interpretador correto do comunismo, Mário Nogueira acha-se o único interpretador correto da boa conduta na escola pública e dos bons exemplos educativos. Reforça portanto a ideia de que Mário Nogueira e outros figurões da extrema-esquerda só gostam da democracia quando esta lhes serve os interesses.
Saiba, por isso, Mário Nogueira que a JSD não se deixa intimidar por ameaças de processo nem por processos de ameaça. Temos todo o gosto em defrontar esta força sindical no nobre palco político mas se estes preferem a judicialização da política portuguesa, lá nos encontraremos.
Não é por em Abril usarmos cravos ao peito e enchermos a boca de chavões que respeitamos a liberdade. Não é por dizermos que somos Charlie que respeitamos a liberdade. Respeitamos a liberdade quando a incorporamos nos nossos comportamentos perante os outros. Respeitamos a liberdade quando assumimos como indispensável o respeito absoluto das liberdades públicas.